quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Náusea

Preciso dizer tudo. Mas tudo é uma série de coisas que vão me ocorrendo muito rápido e nem meus dedinhos bem treinados pelo mestre datilógrafo (aulas que papai me obrigou a fazer aos 11 anos) conseguem acompanhar. Mas a sensação é sempre a mesma - quando não piora. Pior que a pior das culpas, mais doído que ver o Mohammad morrendo afogado. Vontade de que tudo se encha d'água à minha volta, como no (não) suicídio da Laura Brown. Vontade de - como um colega definiu maravilhosamente bem - explodir em mil pedacinhos, o que é mais que vontade de simplesmente sumir. É um desejo profundo de deixar de existir, mas isso não significa vontade de morrer. Dura um instante apenas, ou vários deles repetidamente, mas prometo que é bem rápido.

Isso que se instalou no peito é uma vontade de dizer o que já foi dito milhões de vezes. Mas não adianta dizer, parece, porque nada se resolve. Dizer cansa quem diz e cansa quem ouve e, embora o silêncio não seja a decisão mais sábia, é a mais fácil. Fica só esse nó entalado na garganta, tão apertado que é quase impossível dar bom dia à vizinha mais simpática. Posso viver com isso, acho.

E os olhos, ah, parece que tem uma sombra azul Juliette Binoche em cima deles. Não é o suficiente para cegar, mas é o bastante para tornar tudo turvo, turbulento e doloroso o suficiente para querer esquecer. Esse líquido grosso que está ao redor dos olhos é igual ao da culpa, e acho que é porque já não desce mais nada deles. Não que isso seja exatamente um problema, nunca fui dada a esse tipo de coisa. Quase uma Amanda Woods.

Durante a semana, nós éramos Ozzie e Harriet.

Durante a semana, nós somos Francesca e Richard Johnson.

Vida que segue.