segunda-feira, 17 de novembro de 2008

ego

Clara escrevia por inveja. Tudo que lia, mesmo que lindo, soava, pra ela, como um insulto, um desafio. Clara ainda era nova, tinha a idade em que as pessoas exibem os livros na prateleira e se sentem mais felizes por tê-los do que por lê-los.

Clara era tão nova que achava que sexo tinha a ver com amor e que cinema parecia verdade. Ela tinha um caderno onde escrevia suas coisas. A essas coisas, Clara deu o nome de arte. Ela mesma não sabia se, por ousadia, ou falta de criatividade.

Quando o caderno dela acabava, ela o guardava em algum lugar escondido, mas tinha certeza que, assim como segredos,
isso também era algo que guardava pra mostrar algum dia. Aliás, Clara era tão nova que ainda acreditava que amanhã, ou depois, ou não sei, qualquer coisa magnífica aconteceria.

Coitada de Clara, ela era tão nova que dava dó.


Jarleo Barbosa

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