Início de século tem um clima de dúvida. Para onde iremos? O que vai acontecer conosco? Quais serão as novas invenções e tendências? O início do nosso século apresenta um algo a mais, um sabor amargo de estagnação. Além de ter dúvidas, as pessoas tendem a não crer que algo possa melhorar. Nas artes, acredita-se que já se explorou tudo que é possível e agora vêm as obras vazias e repetidas, as músicas compostas em cinco minutos.
Existem no Brasil (e ouso dizer, no mundo) movimentos de busca de novas formas de fazer música. Aproveita-se tudo que os instrumentos musicais podem oferecer: os sons tradicionais e até mesmo mecânicos que podem ser tirados deles. Músicas são inventadas e reinventadas. Tudo com a qualidade e a alegria que só os espíritos jovens têm.
O grupo Barbatuques, de São Paulo, me atrai de forma especial. Percussionistas corporais, fazem música com sons do corpo. Usam desde o mais baixo murmúrio até o mais alto bater de pés, das tradicionais palmas até os surpreendentes vácuos de boca. É um movimento extremamente carnal e irreverente, envolvendo um vasto número de artistas e a platéia de uma forma que poucos conseguem. A empolgação do público é quase palpável, os encostos das cadeiras não são usados, é impossível não querer bater palmas ou aprender a fazer todos os sons divertidos usados. O palco vira uma festa, uma desordem extremamente organizada e planejada.
São sons que saíram do improviso e se tornaram obras únicas. As músicas transportam o público para uma aldeia africana, para o sertão nordestino ou para uma mata brasileira. Carregadas de folclore e tendências tribais, são de tirar o fôlego.
Os artistas do Barbatuques mostram que música instrumental pode ser empolgante e que a música brasileira tem futuro. As melodias novas chamam tanta atenção quanto as antigas. São novas formas de interpretar a música, novas formas de usar o corpo. É o futuro se fazendo presente aos olhos (e ouvidos) atentos.
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