quinta-feira, 14 de maio de 2009

Keith e as baratas

Os maias erraram. O mundo não acabou em 2012. Quem acertou foi um desconhecido pajé brasileiro, que previu o fim do mundo que conhecemos para que um bruxo ressuscitasse e governasse seus fiéis súditos. Mas ninguém nunca deu atenção às profecias dos índios brasileiros porque eles jamais ligaram para essa onda de construir cidades como os maias, astecas e incas. Aí nunca despertaram fascínio internacional, ninguém nunca quis saber o que o pajé maluco falou e o mundo acabou sem ninguém se preparar para isso.

Mas a nossa história começa três milhões de anos antes disso. Começa no ano 2020, quando um nerd viciado em Star Wars desenvolveu finalmente o congelamento em carbonita. Aquele que o Darth Vader apronta com o Han Solo no Episódio V. Aí virou moda, teve muita perua pagando caro para manter o corpinho milimetricamente recauchutado durante os anos. Vários nerds trabalharam duro e desenvolveram sistemas operacionais geniais para descolar um troco e ir fazer parte da odisséia de Han Solo. Caro, muito caro.

Só que para Keith Richards, desde 1964, dinheiro nunca foi problema. Contando 76 anos completos e um corpinho sem idade definida, caprichosamente esculpido em quase seis décadas de estrada, ele resolveu entrar nessa onda de carbonitamento de congelada. Queria, ele dizia, manter uma viagem por três milhões de anos. O tempo máximo de permanência nas cápsulas de carbonita do jovem nerd.

Keith sabia que ficaria em uma viagem maravilhosa por três milhões de anos. Sabia que acordaria feliz depois de tanto tempo nessa onda. O que ele não sabia é que quando ele abrisse a cápsula, serelepe e pronto para outra, ele encontraria o mundo sem vida. O pajé acertara e o mundo vivo acabara em 3002020, segundos antes de Keith abrir sua cápsula.

Não que as cápsulas fossem proteger as pessoas ou qualquer outro ser vivo da explosão. O Keith que era imune a ela. Tendo passado por tanta coisa nessa vida, um estouro nuclear era fichinha.

Muito sozinho e com uma larica danada, Keith começou a andar pela cidade a procura de um supermercado. Achou um prédio enorme e bem suprido e ficou contente. Teria comida pelo resto da vida. E é óbvio que prazo de validade e intoxicação alimentar não seriam coisas que o afetariam.

Comendo gulosamente um pacote família de Doritos, Keith viu uma manchinha no chão alvo do supermercado. Uma barata. Tão sozinha, pobrezinha, mais perdida ali que barata tonta. A piadinha sádica não foi intencional, a coitadinha estava realmente aflita. Keith era um cara legal e deixou ali uma mão cheia de Doritos para a nova amiguinha.

Ela saiu correndo. Que pena, não quer papo. Ela parecia ser interessante, pensou Keith. Nosso herói mal sabia o que estava por vir: uma legião de baratas, famintas com seus olhinhos tristes e carentes. Era demais para ele. Saiu correndo pelo supermercado abrindo os pacotes família de Doritos, Ruffles, Cebolitos e todos os outros salgadinhos que ali marcavam presença.

E nesse glorioso dia, o dia do fim do mundo, três milhões de anos depois de seu tempo, Keith Richards foi proclamado o Rei das Baratas. E, como todos vocês já puderam concluir, o Rei do Mundo. Sem perspectiva de sucessão, é bom avisar.

3 comentários:

Braitner Moreira disse...

Mas você sabe o que é ter pavor, pavor, pavor de baratas voadoras.

Luiza Queirós disse...

booooooooa

Marcus V. F. Lacerda disse...

Então Keith Richards deveria casar com a Amy Winehouse para conceberem o novo Adão (ou então fazê-lo de heroína ao invés de barro).